Sobre o Infinito, umas Laranjas e o Bigode.

A senhora sempre comprava as mesmas frutas vermelho amareladas pra fazer suco no final da tarde. Ia sempre na mesma venda. Levava sempre os mesmos sacos surrados com um símbolo de infinito na frente. Todos os dias. Curioso, o senhor bigodudo que vendia as tais frutas quis fazer mais uma de suas perguntas inteligentes e ter assunto para contar no mesmo bar de todos os dias. O mesmo bar.

– Bom dia, senhora.

– Bom dia.

– As laranjas de sempre?

– Dez, por favor.

– Posso fazer uma pergunta?

Agora sua expectativa chegava ao tamanho do seu bigode

– Já fez.

Ele ignora.

– Isso nas suas sacolas, significa infinito, não é?

Agora ele já  achava que sua esperteza estava maior que o bigode.

– Sim.

– Mas todos os dias tem que comprar laranjas novas. E as coloca aí dentro. Elas acabam rápido, a vida acaba rápido, o dia acaba rápido, o suco acaba rápido. A senhora já devia ter concluído, portanto, que o Infinito não existe. Não acha que fica um tanto ridículo para alguém da sua idade ficar usando um símbolo desses pra comprar todo dia as mesmas frutas porque elas acabaram?

“Rá!”, pensou o bigodudo. “Ah”, pensou ela enquando escolhia mais laranjas por cima dos óculos.

– Acabou por hoje, mas a culpa é sua.

– Minha?

– Você vai estar aqui de novo amanhã, isso quer dizer que amanhã tem mais, então elas estão na verdade acabando ou começando?

O homem agora se engasgou com os bigodes. Pensou. Precisava valorizar seu trabalho.

– Bom. Graças a mim, estão começando.

– Então pare de vender laranjas e eu deixo de acreditar no Infinito.

Clarice.

Foto via iPhone e Instagram: Desenhei essa senhora com caneta no bloquinho de papel faz tempo, com essas sacolas ao lado e não tinha pensado em nada pra ela. Chegou hoje.

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