Uma Casa e um Dia.

Jon era apaixonado pela sua guitarra. Aonde ia levava a Vermelhinha com ele, desde moleque, quando a Vermelhinha era toda de plástico e acendia luzinhas coloridas tocando Beethoven. Foi um caso de amor desde pequenininho. Ele não resistia às suas notas distorcidas. Ela gostava mesmo de distorcer suas notas. Coisa de mulher. Ele entendia e gostava. Dizia pra ela: “um dia a gente se casa”.

Já Maria era apaixonada pelo seu Sonho. Quando era pequenininha, fazia todos rirem com sua mania de dizer que quando, crescesse, queria ser Sonhadora. Quando cresceu, se vestiu de Sonho e disse que era com Ele que ela ia passar o resto da vida. Ninguém entendia, mas ela sim. Dizia pra ele: “você é meu Dia e minha Casa”.

Todo mundo amava Ambrozina. Mas Ambrozina nunca amou ninguém. Só sentava de braços, pernas e cara cruzadas. Terminou que cruzaram tanto o seu caminho que ela entrou pra cruz vermelha. Rodou o mundo. Se casou com o trabalho e descruzou os braços pra cuidar de terceiros. E Ambrozina encontrou aí seu caso de amor, em vários casos complicados. Dizia pra eles: “eu passo o dia em tantas casas”.

Carla amava Max, Eduarda amava Eduardo.

Max amava Carla e Eduardo amava Eduarda.

Não importava muito se era desde pequenininho. Mas era daquelas coisas que começam até modestas, tímidas, mas que crescem tanto que não cabiam mais em casas separadas. Tiveram ter uma “casa comigo”? Pra caber a mobília nova. Diziam um para o outro: “casa comigo um dia?”

Estava lá todo mundo no casório. Jon tocou sua guitarra apaixonadamente enquanto a noiva entrava na Igreja e ele não se importava se estava todo mundo percebendo que seu mundo todo era a Vermelhinha. E só. Ela fazia uma marcha nupcial distorcida como ninguém.

Maria parecia sozinha alí, sorrindo radiante com os seus. Ninguém entendia que de sozinha ela não tinha nada. Mas ela entendia e gostava. Tinha levado o melhor Presente para os noivos.

Ambrozina também foi. Estava de dedos cruzados pra que tudo desse certo. O resto era livre e descruzado pra sempre, meio sem volta.

O casório não foi o mesmo, nem os convidados estavam presentes nessa ordem. Cada um é o seu. Mas em todo casório tem dos seus noivos, Jons, Marias e Ambrozinas.

E todo mundo estava casado alí. Cada qual com seus amores e em sua casa. Ou Casa.

É que um dia a gente casa.

Clarice Freire.

Isso é porque minha prima, uma das minhas primas/irmãs mais velhas desde pequenininha, noivou esse sábado e eu, a pior das manteigas derretigas e refogadas mais idiotas da Terra, fiquei vibrando de felicidade por ela. Naquelas horas que você começa a sentir velha e ninguém sabe, mas você gosta disso. E Duda, que passou dos tempos de macacão e Sonhar acordadas direito pro altar. E pra todos aqueles que também sentem que um dia acabam se casando. Não importa com quem ou com o quê. Não importa bem a sua forma de casamento. Importa o Amor que você dedica a ele. Ou a ela, no caso da guitarra de Jon. E se isso te transborda ou não.

É ou não é?

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *