Discurso Colação.

Acredite. Aproveite. Passe lá. Garanta já o seu. Não perca. Você não pode perder. Aqui é o seu lugar. Ta esperando o quê? Compre já. Sai logo desse sofá. Adquira já o seu. Você não pode ficar de fora. Isso tem a sua cara. Não se esqueça de pegar o seu. Não perca tempo. Corra. Vá direto lá. Eu vou repetir pra você não esquecer: Acredite. Aproveite. E não é só isso. Não perca tempo e corra. Garanta já o seu lugar.

Convencemos. Não se pode negar que, de fato, convencemos. Com tantos imperativos e persuasivos é impossível comprar um só do que quer que passe por nossas mãos ou mentes criativas, não é verdade? Olha só. Aqui estou eu vendendo de novo. Provando com argumentos intrínsecos que somos bons, que aprendemos tudo direitinho. Mas, agora, no fim e começo de tudo – porque todo fim é, na verdade, um grande começo – acaba surgindo uma nova pergunta: convencemos os outros. Isso é fato. Mas, e nós? Do que estamos convencidos?

Sempre escutamos que não há nada mais difícil do que convencer um publicitário de algo. Porque ele é treinado todos os dias a convencer, como se estar convencido fosse algo reservado apenas para o nosso público consumidor, não para nós. Esta pergunta veio a calhar no dia de hoje, então. Estar convencido está muito longe de ser algum sinal de fraqueza ou de que não somos vacinados pela agulha hipodérmica. Não tem nada a ver com não ser atingido pela nossa própria criatividade. Não. Estar convencido de algo é simplesmente acreditar que existe algo tão grande e valioso que vale a pena viver por isso. Quem sabe estar convencido de algo, é imbatível em seus argumentos, porque não se preocupa em convencer ninguém de nada: ele já é e pronto. Quem somos afinal? Está provado que a questão é ainda maior: não basta apenas saber quem somos, temos que estar convencidos de quem somos.

Depois do dia de hoje, além nossos nomes e sobrenomes podemos assinar “publicitário”. Meu nome é Fulano de Tal e eu sou publicitário. Será, então, que isso responderia nossa pergunta? Sou um publicitário. Sou uma publicitária. Esse é quem eu sou. Então, se ao invés de “Fulano de tal, publicitário”, estivesse escrito, “Fulano de tal, médico”, ou “arquiteto”, isso mudaria quem somos? Não. Óbvio que não. O dia de hoje é importante, é um marco que mudará para sempre as nossas vidas em muitas coisas. Contudo, ele define para todos o que faremos, quais alguns dos nossos talentos e a nossa preparação. Mas além disso, por quê não, o dia de hoje também não pode falar de alma?

“Sua fisionomia anunciava sua alma.” Essa é uma das primeiras frases do livro Cândido, de Voltaire. Vou repetir: “Sua fisionomia anunciava sua alma”. Essa frase é perfeita para nós, que a partir de agora, dedicaremos nossas vidas a anunciar. De anúncio, senhores e senhoras presentes, nós entendemos. Basta um outdoor ou rede social e o anúncio já está veiculado. Mas, voltando para nós, o que anunciaremos pelo mundo a partir de nossa fisionomia? Simplificando: por fora, com o que falamos, vivemos, sorrimos, choramos, amamos ou odiamos, desfilamos pelo mundo, o layout da nossa alma. O que há por dentro. Ela, seja como estiver, é na verdade o que somos. Quem somos. E o que somos nunca será reduzido a uma coisa só. Além das dez coisas que sabemos e das milhares que não temos nem idéia do que se trata, nossa história só é possível e bela, porque por ela passaram várias outras histórias. Cada uma, com o que anunciava, deixa algo na nossa e assim vai. Por isso, hoje, olhando para cada pessoa que convivemos nestes quatro anos é fácil ver as transformações que elas fizeram em nossas vidas. Umas boas, outras nem tanto, mas todos vocês, formandos, fazem parte de minha vida e vice-versa. É. Temos grandes responsabilidades.

Para onde vamos? Mistério. Delicioso mistério. Uma coisa é certa: vamos em busca de nossos projetos e eles são muitos. Tantas coisas a serem realizadas. A partir daí, voltamos para a primeira questão: afinal, do que estamos convencidos? Nos falta abraçar um Sonho. Sonho é diferente de projeto. Um Sonho deve abraçar todos eles, deve estar em todos os projetos como o motivo de realizá-los. Não basta ter um Sonho, é preciso estar convencido dele e encarná-lo. Encarná-lo quer dizer fazer com que nossa fisionomia anuncie nossa alma, como diria Voltaire. Tudo se encaixa no final. Além de escrever bons textos persuasivos, seria um bom Sonho fazer poesia do marasmo vivido pelo mundo. Além de fazer os layouts mais bonitos, seria um bom Sonho azular tudo que é cinza, mudar, questionar, transformar. E que aqueles garotos que queriam mudar o mundo nunca, repito, nunca, terminem assistindo a tudo em cima do muro. Nós não fomos formados para ser platéia. Somos nós quem produzimos o espetáculo. Somos os profissionais da mídia, do palco, dos outdoors luminosos. Porque ser platéia da vida? Assistindo ela passar, o mundo se acabar como se nada mais estivesse em nossas mãos? Discordo. Tudo está em nossas mãos, basta sermos espertos, astutos e nunca perder a capacidade de Sonhar. Gosto da palavra Sonho porque quem já se acha realizado está fadado a uma monotonia muito chata, apática. Quem se diz sonhador sabe que mesmo no último dia de sua vida, ainda estará sonhando, buscando, querendo, transformando. Sabemos que agora, começando no mercado e em novos aspectos da vida, estamos na fase de plantar. Espero sinceramente que saibamos escolher muito bem o que estamos plantando. É bom lembrar que um Sonho por si só não pode fazer muita coisa. O coração por si só também não. Um Sonho no coração avassala o mundo. Por mais metódico e mercantilista que seja o apelo do mundo hoje, ainda é preciso coração, muito coração. Que não nos esqueçamos nunca disso.

Queremos agradecer também aos nossos queridos professores, pela paciência e competência. Aos nossos pais, pelo amor e doação e porque sem eles nada disso seria possível. Aos funcionários, que sempre zelaram pelo nosso bem estar, a Deus e a todos que tiveram um papal decisivo em nossa história, nosso muito obrigado.

E assim foram esses quatro anos. De muita convivência, de muitos debates sobre o comportamento do consumidor, sobre Habermas, sobre um tal de balde de prospecção cheio de P´s, sobre spots, jingles, artes, textos, criatividade, clientes, marcas, vendas, photoshop, corel, ilustrator, câmeras e parques 13 de Maio, Rua do Lazer e Açaí. EI, PSIU, MOÇADA, vamos fazer um brieffing? A moçada estava sempre junta, esperando o elevador, sem saber se vai tomar um suco ou um café com quê, fazendo frio ou calor, são filhos da PP, Publicidade e Propaganda, claro, que não são a mesma coisa. Como esquecer da casa azul, da Xerox das meninas, do sol do estacionamento, das horas nos estúdios de audiovisual com violões e pandeiros. Das horas na biblioteca, que quando via os estudantes de publicidade na véspera da prova, deveria dizer “que saudade!”. Que saudade. São muitas lembranças, coisa que carregaremos pra sempre. Alguns seguirão caminhos distantes, outros estarão mais perto, outros, talvez, nunca mais se vejam. Mas, bom mesmo é olhar pra trás e ver que tudo valeu à pena. Vai valer à pena se onde quer que estejamos, nossa fisionomia anuncie nossa alma e que ela seja mais luminosa que todos os frontligths do mundo. O que você está esperando? Sai logo desse sofá e garanta já o seu lugar.

Clarice Freire.

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